quarta-feira, fevereiro 25, 2004

"Ontem, às quatro da tarde, foi encontrado na praia, o cadáver de um desconhecido. Não possuía nada que o pudesse identificar. Flutuava no mar, vestido de Palhaço de Carnaval."

Queria dizer-te:
Encontraram-te a flutuar nas ondas

Parecias estar a dormir! Estavas tão tranquilo!
E o mar abraçava-te e embalava,
transparente, azul e frio.
Foi nele que quiseste encontrar
o que ninguém te podia dar.
E que nem sequer sabias que ali estava.
Por isso te lançaste nas águas
procurando no mar o que levavas dentro de ti.

Encontraram-te a flutuar nas ondas.

Com a tua máscara de Carnaval,
o rosto coberto,
Com o teu traje de palhaço destemido
acreditando que nem o mar te iria reconhecer
no único momento em que eras tu.
Que é que pensaste ao abraçar aquelas ondas?
Rosto mudado? Eterno sentimento?

Encontraram-te a flutuar nas ondas.

Gostaria ter-te conhecido e ter podido dizer...
dizer... nada...
Eis o Carnaval eterno que gira e gira...
Escondendo-nos uns dos outros
por medo de nos vermos tal como somos
de nos sentir-mos rejeitados e distantes,
sempre diferentes.

Se calhar até pensaste em encontrar outro palhaço
e estar juntos os dois ao abraçar a morte.
Mas tu estavas sozinho, palhaço branco e roxo.
Com peruca de algas verdes
E sorriso de cartão semi-borrado.
Assim te reconheceste, eterno palhaço deste mundo,
na tua farsa, na tua solidariedade,
no teu cansaço, na tua tristeza.

Nessa máscara para fazer rir
que tu usaste para morrer,
afogado pela pena e pelo frio.

Encontraram-te a flutuar nas ondas...

Traje sem alma, máscara vazia,
sentiste o impulso de acabar.
Caracterizado com a tua máscara e o teu fato.

Fomos todos nós os que te empurramos,
ao não te deixar ser como tu eras,
ao não te aceitar com tal
mas sim exigindo.
Sem nunca compreender nem te compreender,
às vezes rindo, quando por momentos
- sem o teu nariz de palhaço -
tinhas o valor de seres tu próprio
e despindo a tua alma
provocavas o riso entre os que mais amavas.

Encontraram-te a flutuar nas ondas...

Sem deixar que gritasses as tuas verdades.
Exigimos-te ser o Palhaço do Absurdo.
Não te quisemos ver despido, pois tínhamos medo
do SER que existia sem o traje.
E tu afinal, como último gesto de desafio
a um mundo que não era teu e que nem aceitavas,
lançaste-te ao mar,
rosto coberto,
para acabar de vez
o teu Carnaval de há muitos anos.

E encontraram-te a flutuar nas ondas...

Palhaço vazio,
espelho eterno
algas verdes
azul, céu-mar,
espuma branca...

E ficaste tu sem máscaras
no fim
perante...

Tu mesmo.

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domingo, fevereiro 22, 2004

O Engraxador



engraxador

Havia um engraxador de sapatos.
Gostava de os engraxar
Era a sua profissão...
Engraxava de tudo!
Botas, botins, sapatos, escapins...
E de tanto, tanto engraxar
Acabou por ficar com a língua cheia de graxa...

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Exilados do Tempo



Exilados do Tempos

Seremos pobres em tudo. Quanto mais ricos de espírito nos queiramos tornar, mais pagaremos pela factura do que posuímos.
Mas afinal, não nos falta nada... e ao mesmo tempo queremos tudo o que não temos.

Olhemos para o que fazemos, não ouçamos o que dizemos.

As nossas mentes parecem casas assombradas, grávidas de fantasmas. Uns que nos atormentam, outros que nos divertem e fazem sorrir.
Uma casa de fantasmas cheia de relíquias. Onde só o passado se torna válido.
É isso que faz de nós exilados do tempo.
Sempre condenados a olhar para trás com nostalgia recheando-nos todas as gavetas dos armários e estantes dos livros.

"Nunca percas os teus sonhos" E o que acontece a quem comete o pecado de sonhar cedo demais, fora do seu próprio Tempo?

Quem não for infeliz, que atire a primeira pedra.

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sábado, fevereiro 21, 2004

Mas que futuro?

À medida que o tempo avança e a sociedade recua, tornamo-nos loucos medricas.
Esquizofrénicos não assumidos!

Eu próprio quando olho para trás, recordo-me de aromas que agora já não consigo sentir.

A vida impregnada do aroma da inocência.

Querem fazer viagens não se sabe para onde
Querem cumprir objectivos sem saber quais são
Querem apaixonar-se sem saber por quem

Querem vomitar cá para fora não se sabe o quê!

Fogem daquilo que os realiza. Quem lhes dera ser dois e não um.
Nem os meus pulmões respiram agora como devia ser! Nem o meu nariz aspira o ar que quer.

Talvez bastasse respirar fundo, mas há correntes que nos prendem a algo que desconhecemos. Seremos mais felizes se nos deixássemos ficar presos?

Tudo o que temos, só serve para irmos perdendo...
As ceifeiras também vão deixando para trás as palhas...

Porque a palha não estava simplesmente bem presa...


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Suicidem-se em massa os que forem felizes

Deixem-nos ficar a sós com os nossos problemas. Porque é por vossa culpa que os infelizes são o que são...

Ninguém tem culpa de não nascer feliz. Mas comparando-se com quem o é, esse sentimento de infelicidade amplifica-se. E desenganem-se! Não são os amigos "felizes" que consolam os "amigos" infelizes. Pelo contrário. Despertam-lhes a inveja! E a inveja não é mais do que um cancro que alastra dentro de nós e nos rói as entranhas até ao ponto final.

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sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Uma das últimas tardes de Carnaval



Queria Escrever os meus próprios versos...
Falar sobre o teatro da vida, descrever o baile de máscaras... Cenário nosso de cada dia.
Queria falar do carnaval, das caretas, do teu disfarce no baile do cortejo, escrever sobre esse beijo... o primeiro que recebi com o teu olhar.

Queria escrever...
Baile de Máscaras... uma máscara em teu rosto, um beijo no teu olhar, uma atracção estranha!
Confusão na alma, um chamamento... centenas de chamamentos!
Sentimentos que surgem, encontros furtivos... um pouco de ternura.

E o teu disfarce que aos poucos se desmorona...

Escrever...
Escrever os meus próprios versos...
Mas não pude dizer nada. Por entre os meus dedos, e também na minha alma outra pessoa teceu um poema.

Mas também não faz falta dizer nada. Afinal tu despiste o meu corpo e eu despi a tua alma.

E o resto... o resto... em grande parte é essa a história do poeta.

Obrigado... obrigado por me teres querido tanto, mas não... nunca foi isso que eu desejei.

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domingo, fevereiro 15, 2004

Novos possíveis mergulhos

Meus caros amigos e amigas, como sabem estarei ausente durante esta semana. Só poderei vir à tona no fim de semana. No entanto, aqui fica um espaço para que digam o que vos vai na alma. E contribuam para um novo impulso a este espaço. Deixem recados. Um abraço, boa semana e até daqui a uns dias.

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sábado, fevereiro 14, 2004

Seta de Cupido

Não consigo fazer um verso... é uma sensação indescritível. Eu apenas peço que não fujas do meu coração. Maldito Cupido! Lançaste a seta com uma força tal que atingiu a meta rasgando pele, músculos, ossos. E agora... não quer sair!
Puxo violentamente, tento partir, mas não sai...
Olho para ela... é esta a seta de Deus? Se assim for, desdenho-a... O sangue não jorra, a dor não existe, apenas me assiste um sentimento profundo. Sei lá, nunca senti este sentimento. Afinal nem sequer te conheço. E não te mereço. No entanto não vivo sem ti.
Não consigo fazer um verso... mas que sensação indescritível...

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Nasceu a Folha de Coral

Curiosamente, a Folha de Coral nasce no dia 14 de Fevereiro. Dia de S. Valentim. Seguinto uma lógica de enamoramento, quase que posso dizer que me tenho vindoa a apaixonar pela blogosfera. Desta forma quero também contribuir para o crescimento desta vontade de escrever e partilhar. Espero que todos os que por aqui passarem, deixem a vossa marca também. Por mais fugaz que seja a nossa passagem pelos outros, pequenas marcas são deixadas. Indeléveis, microscópicas mas duradouras.

Quando por vezes nos sentimos sós, o mar é o nosso melhor amigo... a ele confiamos os nossos íntimos desejos, realizamos as nossas confissões. O mar que nos dá vida mas também a retira. É junto do mar que olhamos o por de um sol que fascina os nossos corações. O mar encerra segredos e tesouros. Resgatáveis ou não... O mar é como o nosso coração. Calmo e tempestuoso... mas nunca pequeno.

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